FIA reitera censura e condena uso da F1 como “plataforma de agenda pessoal”

Mohammed Ben Sulayem deixou claro aos jornalistas presentes no Rali Dakar que a FIA não tem intenção de impedir nenhum piloto da F1 de se manifestar, porém todos "são muito bem-vindos a passar pelo processo" da entidade antes de qualquer ação durante os fins de semana de corrida

A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) está mesmo disposta a frear qualquer tipo de manifestação que seja considerada de cunho ‘político’ pela entidade no paddock da Fórmula 1. O presidente da federação, Mohammed Ben Sulayem reiterou o posicionamento, justificando que o uso da categoria como “plataforma de agenda pessoal privada” desvia a atenção do esporte.

Ben Sulayem falou sobre o tema em coletiva de imprensa realizada no Rali Dakar. No final de dezembro, o órgão regulador das principais competições de automobilismo fez uma atualização no Código Esportivo Internacional para a temporada 2023, dizendo que só passaria a permitir manifestações que fossem previamente aprovadas.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!

O texto do artigo 12.2.1 diz que “a realização e exibição geral de declarações ou comentários políticos, religiosos e pessoais que estejam claramente violando o princípio geral de neutralidade promovido pela FIA em seus estatutos, a menos que previamente aprovados por escrito pela FIA para competições internacionais ou pela ASN (sigla em inglês para Autoridade Esportiva Nacional), para competições internacionais dentro da sua jurisdição”, constitui violação das regras.

SEBASTIAN VETTEL; ASTON MARTIN; GP DA HUNGRIA;
Sebastian Vettel protestando em favor da comunidade LGBTQIA+: cenas assim devem desaparecer da F1 (Foto: Aston Martin)

O dirigente declarou que a mudança foi “feita com consulta, aceitação e aprovação do Conselho Mundial”, observando a importância da neutralidade. “Acredito muito no esporte”, disse Ben Sulayem. “Nós nos preocupamos em construir pontes. O esporte pode ser usado para razões pacíficas e tudo mais. Mas uma coisa que não queremos é ter a FIA como plataforma de agenda pessoal privada. Vamos nos desviar do esporte”, salientou.

“O que um piloto faz de melhor? Correr. Eles são tão bons nisso, nos negócios, eles executam o espetáculo, são as estrelas. Ninguém está os impedindo. Existem outras plataformas para expressarem o que querem. Todo mundo tem, e eles são muito bem-vindos a passar pelo processo da FIA”, frisou Ben Sulayem, acrescentando que a entidade “só quer que o nosso esporte seja limpo”.

O mandatário continuou em sua linha de defesa, negando que a federação estivesse “bloqueando todos os pilotos”, e acrescentou: “Tenho muitas questões pessoais, mas isso não quer dizer que vou usar a FIA para tal”.

“A FIA deve ser neutra, acredito eu, e precisamos das superestrelas para fazer o esporte. Eles fazem um ótimo trabalho quando se trata da competição que todos nós apreciamos”, completou. Ao ser questionado sobre qual seria a punição para quem infringisse o novo regulamento, Ben Sulayem enfatizou que caberia “aos comissários decidir” sobre a sanção ao piloto.

“Clareza sempre, existe o processo. Se houver algo, você tem a permissão. Se não, se eles cometerem qualquer outra infração, será como exceder a velocidade no pit-lane. Fica muito claro o que ele pode receber se fizer isso”, seguiu, concluindo que “os comissários têm todo o poder, não o presidente da FIA”.

Protestos e censura na Fórmula 1

A censura na F1 já havia dado o ar da graça logo após Lewis Hamilton subir ao pódio do GP da Toscana, de 2020, vestindo uma camiseta preta com os dizeres “Prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”, jovem americana de 26 anos que foi assassinada a tiros após a polícia invadir sua casa no meio da madrugada como parte de uma investigação contra o ex-namorado dela. Breonna se tornou um dos símbolos do movimento Black Lives Matter — Vidas Negras Importam, que explodiu em todo mundo após outro assassinato brutal de uma pessoa preta nos Estados Unidos, George Floyd, também por violência policial —, e Hamilton não pensou duas vezes sobre usar a visibilidade que tem para cobrar justiça.

LEWIS HAMILTON; PROTESTO; RACISMO; FÓRMULA 1;
Hamilton liderou o Black Lives Matters na F1, mas cerimônia durou pouco (Foto: LAT/Mercedes)

A entidade, no entanto, não gostou nada da atitude do heptacampeão e decidiu proibir pilotos de vestirem camisetas sobre o macacão. “Ao longo dos procedimentos da cerimônia de pódio e das entrevistas pós-corrida, os pilotos que terminarem em 1°, 2° e 3° precisam seguir vestidos apenas com seus macacões, fechados até o pódio, e não abertos até a cintura”, apontou a determinação da FIA.

As manifestações, porém, nunca deixaram o paddock, na maioria das vezes puxadas por Hamilton e por Sebastian Vettel. Em várias ocasiões, o agora ex-piloto desfilou nos fins de semana de GPs com camisetas protestando contra a crise climática global, como no GP do Canadá, quando vestiu uma blusa com a frase “Parem de minerar areias betuminosas” e despertou a ira das autoridades locais.

O tetracampeão também se tornou uma voz ativa pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ — este último, não por acaso, uma vez que o calendário da F1 passa por países onde homossexuais são perseguidos e até condenados à morte, como o Qatar. A postura de Vettel, aliás, chegou a incomodar o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem.

“Niki Lauda e Alain Prost só se preocupavam em guiar. Agora, Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris, Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos e Norris fala de saúde mental. Todo mundo tem o direito de pensar. Para mim, é uma questão de se devemos impor o tempo todo nossas crenças em algo além do esporte”, declarou o dirigente este ano ao site britânico GrandPrix247. As aspas, no entanto, repercutiram mal, e Sulayem se viu obrigado a mudar o tom, dizendo que diversidade sempre esteve em sua pauta de governo diante da FIA.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.